sábado, 28 de agosto de 2010

Cidade das bicicletas


Uma cidade no oeste da Ilha de Marajó, no Pará, reinventou o conceito do automóvel. "Carros" com 4 rodas, volante, capacidade para 4 passageiros, mas sem motor, circulam pelas estreitas ruas de Afuá, município com 35 mil habitantes onde veículos motorizados são proibidos por lei.
Bicicletas e triciclos são os meios de transporte mais comuns. Já os mais sofisticados são os bicitáxis, invenção local surgida da junção de duas bicicletas, unidas por estrutura de aço que leva bancos, capô, painéis e sistema para CD players e aparelhos de DVD que funcionam com baterias automotivas.Às margens do Rio Afuá, afluente do Amazonas, a cidade foi construída sobre palafitas para escapar das cheias. As ruas são pontes de madeira suspensas. Para evitar sua deterioração, carros e motos não podem entrar na ilha, que fica a 254 quilômetros de Belém e a 100 quilômetros de Macapá, de onde partem diariamente barcos para Afuá. A viagem leva no mínimo duas horas e meia, dependendo da maré.Os moradores chamam os bicitáxis de carros. A primeira versão foi lançada há 11 anos por Raimundo do Socorro Souza Gonçalves, o Sarito, que queria uma alternativa maior e mais confortável à bicicleta para passear com a família. O veículo, com 3 rodas e capacidade para 4 passageiros, chamou a atenção e muitos moradores pediam para dar uma volta. Sarito passou a cobrar pelos passeios e batizou o invento de Bicitáxi, denominação registrada em cartório. O veículo foi sendo aperfeiçoado e ganhou quatro rodas. Apesar do nome, não há nenhuma unidade operando como táxi. A maioria é usada para o transporte dos proprietários e poucos alugam para terceiros. A frota atual é de cerca de 300 unidades, segundo cálculos da Prefeitura. Dirigidos por crianças e adultos, podem atingir velocidade de até 25 km/h, dependendo do fôlego de quem pedala, responsabilidade do condutor e do carona. Ter um bicitáxi é sonho de consumo da maioria dos afuaenses. Custa de R$ 1,2 mil, o modelo mais popular, a R$ 6 mil, versão com opcionais como aparelho de DVD e banco reclinável. A moda é personalizar o bicitáxi e colocar carroceria com desenho exclusivo, luzes de néon e potentes caixas de som, a exemplo do que ocorre com o chamado "tuning", ou personalização do carro. A cidade tem três oficinas especializadas na montagem dos veículos. A de Leoniuro Paulo Martins de Ataide, onde foi construído o primeiro bicitáxi, trabalha com encomendas. Ele leva em média três semanas para produzir a carroceria com chapas de aço e vergalhões. As rodas são de bicicleta ou motos e os aros reforçados com ferro. O volante é de carro, adaptado a uma haste de fecrro conectada a pedais da estrutura da bicicleta do lado esquerdo. Modelos mais novos têm sistema de mola e catracas que deixa o volante mais macio. "É a nossa direção hidráulica", compara Marinaldo Rodrigues da Silva, dono de um bicitáxi há dois anos. "Nunca dirigi um automóvel, mas tenho vontade", afirma ele, que tem 31 anos e é funcionário público. Silva gastou R$ 2,5 mil no seu bicitáxi, sendo R$ 800 com mão-de-obra. Éder Jean, de 28 anos, dono de uma oficina de biicletas, já teve seis bicitáxis. O atual foi desenhado por ele mesmo e batizado de Bat Móvel. A lataria é verde com grafites coloridos. É equipado com caixa de som, dois alto-falantes, néon, retrovisores e painel que controla luzes de pisca e lanternas. O estofamento dos bancos, encomendado em Macapá, tem fotos da filha Evellin Chandra, de 5 anos. O custo beira R$ 3,7 mil. Para recuperar parte do investimento, Jean o aluga por R$ 10 a hora. As cinco unidades que teve foram vendidas com facilidade, pois o mercado de usados é disputado. Ele nunca testou um automóvel, mas não tem interesse. "É muito arriscado." O modelo mais luxuoso de Afuá, com linhas de um jipe esportivo, pertence a Elisomar Gemaque de Castro, que levou dois anos para juntar todos os itens instalados no veículo. O volante e o câmbio são de Fusca, o painel com luzes de pisca e faróis de milha é de Tempra, pneus e retrovisores são de motos. Os bancos em couro reclináveis, de um Mille, foram reduzidos de tamanho. O veículo é equipado com DVD, onde Castro vê as bandas de sua preferência. Tem caixas de som, alto-falantes, santantônio e estribos para compor o visual de um jipe 4x4. "Aqui ele é um Mercedes-Benz da cidade grande." Castro copiou o design de um jipe de brinquedo do sobrinho. A parte frontal foi feita em chapas fundidas e pintura automotiva. O freio é de mão e o câmbio tem três marchas. O veículo é avaliado em R$ 6 mil, dinheiro que daria para comprar uma casa no centro ou duas no bairro Capim Marinho, o mais populoso da cidade. "Já me ofereceram esse valor, mas não vendo por preço nenhum", declara Castro, que tem 30 anos e faz trabalhos de computação e gravação de CD. "O único lazer que tenho aos sábados e domingos é o carro", diz Helbson Monteiro Pantoja, de 22 anos, que costuma levar a esposa Vânia e o filho Wesley Davi, de um ano, para passear. O desenho do "carro" é uma homenagem ao grupo de rap Racionais MC's, de quem é fã. Levou sete meses para ser montado e tem luzes de néon, buzina e banco inteiriço. O tamanho dos bicitáxis varia de 80 centímetros a 1,20 metro de largura por até 2 metros de comprimento. As cidades vizinhas de Anajás e Chaves também não têm automóveis, mas é permitida a circulação de motos. "Só nós temos os bicitáxis", diz o prefeito Odimar Vanderley Salomão.

Fonte:
http://bicicletanavia.multiply.com/journal/item/53


Em meio ao caos, cidades assim são tão bacanas, pela simplicidade e a qualidade de vida. Acredito que se o mundo fosse assim vários problemas seriam resolvidos, como a precariedade da periferia, quem sabe nem existiria periferia, pois as coisas precisariam ser perto da casa de cada comunidade. A saúde melhoraria, pois seria obrigatório o exercício físico, não haveria tanta comodidade, mas a qualidade de vida seria boa. Sem falar no quanto seria bom para o meio ambiente e para a mente criativa das pessoas. Só não acho que seria a salvação do mundo porque eu que vivo atrasada ia me dar mal nessa, rs. quem sabe eu não aprenderia na marra a ser pontual. Bom, a "cidade das bicicletas" é de um planejamento invejável, pena que nas grandes cidades isso não é mais possível, os motores já tomaram conta, a tecnologia virou meio de vida e a criatividade, simplicidade e delícia de viver foram deixadas de lado.

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